A Escola Básica da Ponte nasceu há 39 anos para promover uma aprendizagem mais autónoma e democrática. Não existem turmas, nem testes e os resultados são acima do esperado.
O grupo de visitantes entra na sala de aula. O olhar de curiosidade de quem chega contrasta com a indiferença de quem está sentado nas mesas de trabalho. Sentados em grupos, não há quadro na parede nem o professor está de pé a debitar a matéria. Há três professores na sala e cada um está sentado ao lado de um aluno que naquele momento precisa de ajuda e ninguém está distraído a conversar com o colega do lado.
Alunos e professores já estão habituados às excursões que se deslocam de vários países para ver in loco a Escola Básica da Ponte a funcionar. Finlandeses, brasileiros, italianos, holandeses ou ingleses, são muitos os grupos ligados à Educação que procuram alternativas aos modelos dos seus países e vêm à Vila das Aves, concelho de Santo Tirso, conhecer a escola pública fundada em 1976 com base no Movimento Escola Moderna e que é tida como um exemplo de sucesso.
A visita do DN às instalações é partilhada com a pedagoga brasileira Márcia Taborda, que estando de visita a Portugal, "não podia deixar de conhecer uma escola que é estudada no Brasil". Vem acompanhada pelo marido que foi arrastado para o Portugal profundo atrás da escola modelo. Ao mesmo tempo, na sala de entrada da escola, onde os visitantes são convidados a ler os seus direitos e deveres, a coordenadora do projeto debate uma tese de doutoramento sobre a escola com um aluno conterrâneo de Márcia. Um trabalho que é discutido com a representante dos pais, outra particularidade desta escola.
Mas afinal o que é que esta escola pública tem de diferente para só no ano passado ter recebido quase 900 visitantes? Aqui não há turmas, os alunos decidem o que estudam no seu dia-a-dia, os professores não estão sozinhos numa sala e os únicos testes que se fazem são os exames nacionais. Uma forma de ensinar muito semelhante ao que a Finlândia (estudar por fenómenos e não disciplinas) ou a França (aprender por trabalhos de grupo e dar autonomia aos alunos) pretendem implementar. Júlio, que está no 7.º ano, acredita que tem mais responsabilidades que numa escola normal, mas também mais confiança nas suas capacidades e autonomia.
O aluno faz parte do grupo de estudantes encarregado das visitas guiadas à escola. É ele que, acompanhado pelo colega mais novo, Rúben, mostra aos visitantes os cantos da sua escola e como esta funciona. Júlio entrou para a Ponte, quando esta ainda estava na Vila das Aves. Agora partilha o recinto em São Tomé de Negrelos com a escola básica local, que pertence ao Agrupamento do Ave. A Ponte não está integrada em nenhum agrupamento e funciona com contrato de autonomia. Não existe outra escola pública igual.